Não mate o mensageiro: Dan Bilzerian é o sintoma, não a doença
Depois de um post no Instagram de uma feminista brasileira, muito foi discutido sobre o estilo de vida de Dan Bilzerian. As discussões provocaram uma reflexão sobre um assunto muito mencionado: a objetificação das mulheres.
Se você não conhece Dan, bem, ele pode ser descrito como um exótico e rico jogador de pôquer, que passa a maior parte do tempo viajando e postando fotos em torno de muitas mulheres praticamente nuas. Ele também adora armas, carros e maconha. (Não é preciso dizer que ele é odiado por vários grupos, mas também amado por muitos)
Então, o que há de errado com Bilzerian?
A resposta é: depende. Supondo que não haja violação da lei ou ações de violência envolvidas em seu comportamento, o que resta é um julgamento moral de seu modo de vida. Isso é subjetivo. O que é imoral para mim pode não ser imoral para você.
Penso, no entanto, que suas ações perpetuam uma cultura opressiva e problemática, a objetificação da mulher, mencionada anteriormente. Em outras palavras, sim, Dan é imoral para mim.
As fotos com inúmeras garotas seminuas, parecendo que elas existem apenas para “servir” e fazê-lo se sentir bem consigo mesmo, retratam essa imagem delas como coadjuvantes na vida dos homens. “Atrizes” que não têm outro objetivo senão fazer com que seus homens se sintam confortáveis.
Essa visão dos papéis das mulheres não é nova. Suas raízes são profundas, evidentes nas antigas propagandas de mercadorias e nas opiniões retrógradas que, infelizmente, ainda são mantidas por muitos grupos.
Essa cultura, por muitos anos, criou uma imagem das mulheres como objetos sexuais que devem seguir um determinado comportamento e ter certo tipo de corpo. Isso não apenas colocou em risco sua auto-estima, colocando na cabeça de muitas que eles deveriam se tornar atraentes para os homens e seguir todos os passos para melhor se encaixar em estereótipos irreais, às vezes até em detrimento de sua saúde e felicidade, mas também moldou a maneira como os homens pensam inconscientemente sobre as mulheres e, consequentemente, agem em relação a elas.
Isso explica por que muitos homens e mulheres veem o feed de Bilzerian no Instagram e pensam que seu modo de vida é desejável. É uma cultura tão arraigada que a maioria faz sem questionar se o comportamento realmente reflete seus próprios valores fundamentais.
É possível detê-lo?
Não, provavelmente não.
Como mencionado anteriormente, considerando que todas as suas ações são consensuais e lícitas, a crítica a seu comportamento é uma análise moral e, consequentemente, uma conclusão subjetiva que deve ser naturalmente colocada na “cesta” de opiniões. Não há absolutamente nenhuma justificativa para “sanções” reais à vida de Dan.
Reforçando: o raciocínio apresentado aqui considera que (1) as mulheres estão lá com consentimento total; (2) são economicamente beneficiadas e não exploradas.
Pessoalmente, acredito que atacá-lo, por si só, não ajuda o movimento feminista ou a conscientização dos homens quanto a sujeição histórica das mulheres. (Aqui, gentilmente, faço uma referência a um grande livro: A Sujeição das Mulheres, de Stuart Mill.)
Tentar parar ou “cancelar” Bilzerian vai mudar o mundo?
Absolutamente não.
Como mencionado no título, Dan Bilzerian não é a doença. Ele — e seus fãs — são um sintoma de uma doença. E por doença me refiro a uma cultura que apenas recentemente vem sendo confrontada.
Por isso, atacar Dan é provavelmente uma perda de tempo. É como cortar um galho de uma árvore que compromete um sistema hidráulico com suas raízes.
Uma característica ruim dos grandes movimentos é a falta de foco e racionalidade, tornando-os menos eficazes do que poderiam ser.
Por que vamos gastar tanto tempo condenando Dan e as mulheres que escolheram estar com ele — comendo boa comida, andando em carros bonitos, vivendo em uma nação desenvolvida e viajando ao redor do mundo — em vez de focar no tráfico de mulheres ao redor do mundo, principalmente na América Latina e no sul da Ásia? E a exploração sexual de crianças em bordéis clandestinos? Ou prostitutas que são forçadas a trabalhar e, na maioria dos casos, não conseguem escapar de sua realidade devido à profunda dependência do dinheiro que fazem lá ou ao estigma sem fim e às doenças mentais associadas às suas condições?
São essas pessoas que sofrem, mas suas vozes não podem ser ouvidas, já que seus exploradores são bandidos que não publicam fotos no Instagram!
Então, o que fazemos?
Mudar o mundo é difícil. Muito mais difícil do que “expor” Dan Bilzerian.
É preciso mais do que postar stories, mais do que fazer vídeos em um iPhone dentro de uma casa de classe média em São Paulo.
Se você realmente deseja mudar alguma coisa, tome uma atitude. Doe para organizações que tiram pessoas das ruas, seja voluntário em outras que abrigam mulheres e crianças vítimas de abuso sexual. Converse com seus amigos e familiares sobre a objetificação das mulheres como alguém que quer ensinar, e não julgar. E, o mais importante, não seja hipócrita. Se você fizer tudo isso e ainda terminar o dia ouvindo músicas do Funk brasileiro, que retratam as mulheres como objetos sexuais, provavelmente não aprendeu nada.
Para críticas ou comentários, me contate no brunosulzbach@live.com